Fiquei muito satisfeito com os temas abordados no filme Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica, da Disney e da Pixar e todos eles me emocionaram muito. De forma divertida, traz temas como a ‘jornada do herói’ muito estudada por Joseph Campbell, e já abordado em outro texto aqui no Café com Zumbi, além de fazer referências a vários outros cenários da cultura pop, como Senhor dos Anéis, Harry Potter, Rei Arthur, entre outros, como a mitologia grega e o mundo dos jogos de RPG. Mas um tema que me chamou muito a atenção foi o desenvolvimento da família Lightfoot, com seus integrantes Wilden, Laurel, Ian, Barley, Colt Bronco e Brasinha. São elfos azuis, centauro, dragão chinês convivendo numa casa em formato de cogumelo. Clara referência aos hobbits e seus cogumelos dos Senhor dos Anéis, que inclusive, esses cogumelos, viram comida natural no mundo moderno, como forma de resgatar uma vida saudável.

               É claro que o filme, com sua trama base, tenta passar que nós somos seres incríveis, mas ficamos tão ligados no ‘piloto automático’, buscando o mais fácil e conveniente, que fomos nos esquecendo daquilo que realmente somos diante do universo: seres totalmente únicos. Ninguém é exatamente igual a mim e a você. E como o próprio Ian Lightfoot nos diz no filme: “Nas missões (ou se pudermos fazer uma analogia aqui – Nos propósitos da nossa vida) o caminho mais fácil, nunca é o adequado.”, nos ensina que o caminho fácil pode até nos trazer conforto a curto prazo, mas a longo prazo deixamos de lado tudo aquilo que há de melhor em nós, conquistado por nosso esforço, empenho, como aquele que já entendeu que as virtudes podem ser desenvolvidas nas experiências de cada dia. É por isso mesmo que vemos unicórnios alados virando lata nas ruas em busca de comida, a comida do condado “hobbit” que virou hamburgueria fast-food, fadas que não sabem que podem voar, centauros – meio homens e meio cavalos, mas que acham que não nasceram para correr, aprendizes de mago do mundo antigo, inspirados em Gandalf, preferindo a facilidade da lâmpada elétrica do que criar sua própria magia do fogo com seu cajado mágico, e toda a memória da magia desse mundo antigo foi oprimida por nós mesmos, sendo lembrada apenas por um jogo de RPG chamado Missões de Outrora que Barley gosta muito.

               Agora o tema família, que vamos conversar aqui no Pai Herói Filho Herói, com certeza, nos auxilia a entender que aqueles que conhecem realmente nossos sentimentos, são aqueles que nos são mais caros e aqueles que mais devemos considerar em nossa vida. Vemos no filme que o desenvolvimento dessa família, cada um com o seu desafio pessoal, compartilham sentimentos entre si, mas é justamente a mistura desses sentimentos de cada um, esse caldeirão de emoções que compartilhamos e que vamos conhecendo no outro, que nos diz quem são aqueles que permitimos adentrar no vasto universo interior que temos dentro de nós.

               E não seriam, então, essas pessoas nossos verdadeiros amigos de jornada? Ou melhor… Nossa família amiga, que nos acompanha nessa ‘Jornada Fantástica’ chamada: vida? Não seria a família e amigos que conhecem nossos medos? Ou que conhecem nossas potencialidades com mais primazia?

               São eles que sabem que podemos ser mais confiantes, que nos enxergam como guerreiros dos nossos próprios desafios, e se somos expansivos ou introspectivos, cada um com sua particularidade. Pois são o que temos de mais rico: nossa família.

               O elfo Ian Lightfoot, o irmão mais novo da família, no começo da história, faz uma lista chamada “Novo Eu”, e nela se encontra desejos como, falar melhor, aprender a dirigir, ter coragem de convidar os colegas da escola para sua festa de aniversário e o mais ambicioso item da sua lista: ser como seu pai Wilden Lightfoot.

               Seu pai, que já havia falecido e não chegou a conhecê-lo, tinha participação na sua mente como uma pessoa ousada e confiante, e era isso que o inspirava a ser alguém sem medo de falar com as pessoas, sem medo para aprender a dirigir e ser querido entre os colegas, assim como sabia que seu pai era. Ian, chateado com suas tentativas falhas, descobre, através da sua mãe, que seu pai, se esforçou por muitos anos para ser uma pessoa confiante e querido entre seus amigos, mas que no final, embora todos achassem estranhas suas meias roxas que nunca saiam dos seus pés e mesmo assim não se importava com o a opinião dos outros, era mesmo muito querido por todos.

               Após a possibilidade de ver seu pai por um dia, renova sua lista para não deixar de jogar bola com ele, de rirem juntos, apenas passearem, aprender a dirigir, dividir sua vida com ele, e encostar coração com coração, ou seja, poder abraça-lo uma única vez. Acontece que seu foco na lista, o cega momentaneamente, e acaba ficando desatento ao seu alicerce familiar. Observar muito de perto nossas necessidades, focando apenas em nós mesmos o tempo todo, não seria o mesmo que observar de longe aqueles que nos rodeiam e nos amam?

               Já Barley Lightfoot, o irmão mais velho, confiante e divertido, tem boas lembranças de seu pai. A barba que arranhava, a risada escandalosa, e o jeito que batucava nos pés, ficaram guardadas na memória com muito carinho. Mas tudo isso escondia uma quarta lembrança, que lhe remontava um medo que sentiu e que o impediu de fazer algo que considerava muito importante. Pois então, não fez e se arrependeu muito. Esse medo foi tão forte que, desde então, prometeu que nunca mais seria medroso na vida. Eis aí a construção de uma pessoa, corajosa e extrovertida, mas, talvez, seja exatamente essa extroversão excessiva, que o impede de olhar para dentro de si, sem saber, por exemplo, equilibrar expansividade com reflexões interiores, que é o caso, quando o vemos envergonhando seu irmão na frente dos colegas de escola, não por ser quem é, mas por ter escolhido ações expansivas demais sem reflexões e discernimento.

               A mãe Laurel Lightfoot, se aventurando e se arriscando, descobre que é uma guerreira de verdade, muito diferente daquela guerreira de frente da TV sendo motivada pelo apresentador do programa de aeróbica. Potencial que descobre conhecendo melhor seus filhos e vivenciando com eles aventuras que nos tornam protagonistas da nossa vida.

               Colt Bronco é um centauro policial, padrasto de Ian e Barley, mas que também se deixou levar pelas facilidades e comodidades da vida e mesmo sendo metade cavalo, prefere dirigir viaturas policiais, como as nossas, que não foram feitas para cavalos dirigirem. O que nos dá a percepção de que não estamos dando valor para o ser divino que somos, assim como todas as outras criaturas do filme. Bronco resgata também, seu potencial aprendendo com sua nova família.

               A proposta do filme é que os personagens tentem resgatar o mundo fantástico e mágico de outrora, em que as pessoas valorizavam seus verdadeiros propósitos e potencialidades, não importava o empenho. Mas é claro que essa magia e encanto está também nas relações familiares que vemos no filme. Barley, por exemplo, sempre cuidou do seu irmão, o entendia como ninguém e ainda agia como um impulsionador para deixá-lo pronto para enfrentar as circunstâncias da vida, e também como um incentivador fazendo com que Ian acreditasse mais em si mesmo.

               Ian por outro lado, apesar de ter se perdido parcialmente na sua falta de confiança e a princípio não acreditar nas decisões de Barley, transforma seus sentimentos e percebe o quanto seu irmão estava presente em praticamente todas as fases da sua vida, numa das cenas mais lindas do filme. Passa, então a apoiá-lo, e melhor ainda, construir uma convivência mais sólida.

               Não seria muito forçoso observar que também temos magia e encanto nas relações da nossa família, apesar das diferenças entre todos. O empenho maior, mais nada doloroso, seria demonstrar nossos afetos, pois esses seriam a construção de laços misteriosos para com aqueles que amamos, que se observarmos bem, nos conduzem a magia do coração. E esse nosso coração poderia ser então, uma sala iluminada onde eles se sentiriam tranquilos e satisfeitos. Laurel, como mãe não só educa e constrói um excelente alicerce familiar, como também participa ativamente da vida dos filhos, sendo portando, essa sala iluminada que traz tranquilidade e acolhimento, como o coração de toda mãe. O pai, que já havia partido, prepara um presente para os filhos, justamente para auxiliá-los no ritual mágico que selaria a passagem dos filhos para a vida adulta, além de é claro, poder se orgulhar dos bons homens que se tornaram com o feitiço “Magia da Aparição”. E mesmo o padrasto centauro Bronco, que se agrega depois, tem suas manias esquisitas, mas é bem recebido por todos da família, assim é claro como Brasinha, o dragão chinês de estimação. É assim que, engrandecendo nossas afeições, podemos lhes trazer o máximo da alegria e da magia, enriquecendo nossas relações.

               É claro que para isso também precisamos entender que o propósito da família é o mais ditoso, pois é nesse cadinho do convívio onde os sentimentos se misturam e podem ser reconhecidos por aqueles que amamos e reconhecermos os deles também. E é no reconhecimento dos sentimentos mútuos que podemos reconhecer um verdadeiro amigo ou amado, que não espera recompensas e não há qualquer tipo de interesse pessoal. Simplesmente amamos do jeitinho que o outro é, aceitando e se ajustando com toda a bagagem que aqueles que nos são caro nos trazem, mesmo porque, podem ser nossas as manias e hábitos que trazem inconveniência para aqueles que convivem conosco. Mas é essa troca que nos faz conhecer e compartilhar experiências com os sentimentos alheios, pois como é que as pessoas poderiam ser boas umas com as outras ou um verdadeiro amigo, sem conhecer intimamente os sentimentos do outro?

               É justamente no convívio mútuo das imperfeições que crescemos como família e como pessoa, reconectando com a nossa magia interior. É muito bonito ver essa conexão da Família Lightfoot. Podemos nos inspirar e começar a agir em favor da magia e do encanto nas nossas relações com aqueles que amamos. Magia essa, muita mais bonita do que apenas fogos de artifícios que encantam apenas os olhos; e sim, aquela que, nas ações simples, mas realmente demonstradas à quem amamos, encanta, mas nessas vezes, o coração.

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Fábio Henrique Marques
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