O PROFETA E O REI

Pelo escritor Dericky Henrique. Uma parceria entre O Herói que Existe em Nós e Saving Throw RPG

Para uma melhor experiência da sua leitura, ouça ao mesmo tempo, o PODCAST no fim desse conto.

       Era o que parecia ser mais um dia comum em Gilgamesh, a nova capital do Império de Arkemenia. Nova, pois, a cidade de Ifrit foi deixada como um santuário, onde a Ordem do Fogo e Sangue, ordem de clérigos de Periett, se assentou, e criou uma cidade sagrada ao redor do lendário ente e artefato que dá nome a cidade.

       Na capital o dia era ensolarado, a fila de cidadãos que desejavam ter com o regente para resolver conflitos e ou questões pessoais era extensa. Na sala do trono, haviam quadros com ilustrações das mais gloriosas vitórias de Arkemenia. Assim também, como grossas pilastras que sustentavam todo o aposento, e um soldado a frente de cada, totalizando quatro pares. As vidraças possuíam cores de tons quentes, que trazia ao lugar a sensação de ainda mais calor, o que era justo, estamos diante do herdeiro do deus das chamas da guerra. No centro do salão um tapete vermelho, que percorre toda a sala, desde as portas, até a escadaria que eleva o trono. E sentado em um trono feito de aço vulcanita, estava o, não mais Rei, e sim Imperador Gareth Eberhard.

       Um homem com aparência jovial, porém madura. Barba cheia e bem-feita. Usava uma meia-armadura nobre e com qualidade suficiente para própria proteção, roupas elegantes e confortáveis. Cabelos a cortar e bem ajeitados sob a coroa. Em sua cintura, repousavam duas espadas, na esquerda a Ladra das Nove Vidas, e na direita a Draynuus, a espada de chamas púrpuras, dádiva da própria Ifrit.

       No salão, além dos soldados, se encontravam um escriba à esquerda do imperador; e à direita Tallur, o principal conselheiro do Imperador.

       Gareth se posicionava no trono de modo desleixado, como alguém que passou horas sentado, e preferiria estar em qualquer outro lugar, desde que não fosse ali. Então, com um cotovelo apoiado no trono, apoiava o rosto na palma de sua mão; enquanto que, com a outra mão fazia um gesto para o guarda liberar a entrada do próximo cidadão.

       Pela porta entrava um jovem pastor de ovelhas. Pele escura de sol, rosto cansado de árduo trabalho e longa espera na fila do palácio. Roupas humildes de trabalhador campesino, entretanto, bem cuidada, como se escolhesse a melhor de suas vestimentas para a ocasião. Ajoelhou diante do imperador, e após a permissão para se levantar disse:

       — Vossa Majestade, venho de modo humilde implorar por uma atitude de seus homens, em relação a uma praga que aflige as ovelhas de meu pasto.

       O imperador lança um olhar para Tallur, e esse por sua vez entende o significado daquele olhar, que por muitas vezes fora repetido na última década. O olhar significava “situação insignificante e tediosa, resolva isso!”. De modo imediato, Tallur ordena ao escriba que anote suas ordens. Elas consistiam em enviar especialistas para a identificação da praga, e homens para a aplicação de tal resolução.

       O jovem pastor é dispensado, e após agradecer e reverenciar o imperador, dá alguns passos de costas (pois não se vira as costas para um monarca), e se retira satisfeito.

       Gareth bufa, como que entediado.

       Novamente o gesto para que o próximo entre.

       Desta vez quem adentra o salão é um senhor. Um homem que aparentava possuir uns 80 anos de idade. Postura um pouco corcunda, pele cheia de rugas, sem barba e longos cabelos grisalhos. Portava um bordão, suas vestes sacerdotais possuíam o símbolo de um dragão lançando fogo sobre um altar. Era o símbolo da Ordem do Fogo e Sangue.

       Naquele momento, Gareth se ajeitou no trono, pois sentira um presságio que agitou profundamente seu ser. Não existia mais aquele homem de postura desleixada, que estava sentado naquele mesmo trono. Agora, havia alguém cujo os olhos ardiam como as chamas de uma batalha, as chamas da guerra.

       O profeta fez menção de se ajoelhar, mas foi impedido.

       — Não é necessário que se ajoelhe — Disse Gareth. — Um mensageiro de Periett será sempre tratado como um amigo da casa.

       — Muito obrigado, Vossa Majestade — Disse o profeta. — Venho ter contigo devido a uma revelação que tive noites atrás, por meio de sonhos.

       — Diga, qual é a revelação? Se for agradável, eu o recompensarei.

       — Não desejo as recompensas de Sua Majestade, e também não pretendo responder-lhe à pergunta.

       Houve silencio na sala do trono.

       — Me responda o senhor, Sua Majestade — Disse o Profeta, levantando a voz. — O que tem feito com tamanho poderio nesses dez anos? O que o império significa para Sua Majestade? Por que não se levanta desse tão enfadonho trono, e vai brandir suas espadas em algum campo de batalha qualquer?

       Gareth, como que acometido pela a presença de um dragão pela primeira vez, paralisa, e lembra de diversos acontecimentos que o faz refletir sobre as perguntas do profeta.

       Lembrou-se dos inúmeros duelos que venceu, na retomada de controle do continente, enquanto Tallur se dedicava a acordos diplomáticos. Preferia derramar sangue, ao invés de se dobrar com as palavras.

       Pois, ele fora gladiador, e não rei.

       Também lembrou das batalhas nos campos, na busca de expulsar os últimos dos bárbaros e Touyas de Arkemenia. E também da elaboração de diversas táticas de guerra contra a rainha fada de Érion, Merildrin. Que o enganou, pois ela não matou irmão, nem sequestrou o pai de seu amigo e general, Sir Thomas Salem. Ela mentiu na intenção de colonizar o continente bárbaro, ao norte de Arkemenia. E conseguiu.

       Pois, ele fora guerreiro, e não rei.

       Lembrou-se também, da batalha final contra Enxofre e Jack Buffalo-Head. Uma noite, em um ritual profano, Jack trouxe de volta Enxofre do mundo dos demônios. A batalha foi difícil e sem precedentes. O cemitério fora destruído. Thomas e Butcher quase foram mortos, mas Gareth fez um acordo. Se ele poupasse a vida de seus companheiros, faria vista grossa para os pequenos negócios ilícitos no continente (não sabia da ainda existência de Clube dos Canalhas). E assim foi feito.

       Pois, ele fora herói, e não rei.

       Gareth teve duas filhas gemêas, Ellissa e Allyssa. E as treinou desde cedo, para que se protegessem. Hoje elas possuem 7 anos de idade. Para John Eberhard, seu primogênito e primeiro na linha sucessória ao trono, ele intermediou os cuidados e amizade de Trugothar, um dragão ainda bebê. No ritual de passagem para vida adulta, ele o presenteou com Agni, a espada de chamas infernais, que pertencia a seu antigo comandante e companheiro de batalha John (sem sobrenome, pois era cidadão de segunda categoria, e fora do Clube dos Canalhas). O nome de seu filho foi em sua homenagem.

       Pois, fora pai e amigo, e não rei.

       Gareth então entendeu o que o profeta queria dizer com aquelas perguntas.

       — Agora você entende Gareth Eberhard — Disse o profeta, com um sorrisinho no rosto. — Você é herdeiro legitimo ao trono. Possui sangue, ainda que bastardo. Possui autoridade, ainda que como dádiva de Ifrit. Entretanto, não nasceu para governar. Você fora muitas coisas em sua vida, mas nunca rei. De fato, nunca governou.

       Todos em absoluto silencio… então continuou o profeta:

       — Vá lute, aqueça seu sangue, adore seu deus e pai no campo de batalha, saia do descanso. Porque, quando chegar novamente o tempo de descansar, você descansará para sempre.

       O profeta então vira as costas, e avança lentamente em direção à saída. Os soldados notando a petulância e a falta de respeito para com a maior autoridade do império, lançam as mãos sobre suas armas, e esperam uma ordem de seu imperador, para que executem o profeta.

       Gareth, ainda que sem notar, estava em pé. Sem reação. Sem saber como reagir. Mas sabia de uma coisa. Ele deveria preparar-se e preparar sua casa para sua partida, porque o tempo de derramar sangue estava voltando. E seu interior ardia por isso.

       Pois, nasceu para derramar sangue, e não ser rei.

 

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Dericky Henrique
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