[Atenção: Análise com Spoilers] – Para uma melhor experiência da sua leitura, ouça ao mesmo tempo, o PODCAST no fim desse texto.

Loki sempre quis ser o rei no lugar do irmão Thor quando Odin se fosse, não é? 

Será que ele mereceu ser um herói nessa segunda temporada?

Entre ser rei e um herói… Quais símbolos importantes vimos nessa série que são de explodir a cabeça de tão bons?

Bora entender em mais um episódio do Herói que Existe em Nós?

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Confesso que estava duvidando dessa série, mas me surpreendeu muito por causa da abordagem que fizeram do multiverso, sobre viagens no tempo com enredo muito bem elaborado, com inimigos invisíveis como o Khang e o próprio Tear com a extinção dos multiversos.

O objetivo do Loki sempre foi ser melhor que o Thor e o Odin. Thor Herói, Odin Rei… Será que ele queria ser mesmo um herói ou um rei? Ou sempre quis ser um trapaceiro, e deus da mentira e da enganação como na mitologia Nórdica?

Como deus da mentira, e mitologicamente falando, o símbolo Loki como um trapaceiro é como as vias imprevisíveis na nossa vida, o erro que veio para o bem, o demônio causador de rupturas que nos obriga a mudar e a nos transformarmos. O símbolo básico do Loki psicologicamente falando é esse: O símbolo da ruptura, da quebra, que te desafia a se transformar.

Não a toa que existam múltiplas variações de Loki e uma delas tente e talvez consiga ser herói, acima de Thor, pois salvou a linha do Tempo Sagrada e as ramificações do multiverso, e talvez também, acima de Odin, pois não só é rei de Asgard, mas também, substituindo Khang, rei do multiverso e do tempo.

Um verdadeiro Deus. Rei e Herói…. Entre rei e herói, o que esses símbolos significam na prática a favor do autoconhecimento?

Essa variante de Loki, se deparou desde a primeira temporada, com o valor de um propósito na vida.

Loki descobre que sua mãe adotiva foi morta por sua causa nos tempos de Thor 2, mas nunca chegou a acontecer com essa variante. Mas o choque foi grande ao ver, nos arquivos da AVT, informações sobre seu passado, presente e futuro. Sua mãe até chega a dizer quando Loki não a considera como mãe: “Você é tão perspicaz sobre todos, menos para você mesmo.” Ela sabia que Loki, lá no fundo a amava, e ele mal conhecia esses sentimentos. Realmente os arquivos pegam Loki em cheio. Começa ali a surgir os primeiros sentimentos de um novo propósito, uma transformação.

Seu primeiro propósito era o poder, vencer através da imposição do medo, e profundamente abalado com o que acabara de ver sobre sua mãe, chega a dizer a Mobius sobre si mesmo e sobre suas intenções vilanescas anteriores, e que até chegou a dizer sobre o glorioso propósito da AVT: “Eu não gosto de machucar as pessoas… Eu faço isso porque eu preciso… porque eu precisei. É o truque cruel e elaborado e conjurado pelos fracos para inspirar medo.” A segunda ruptura é essa e logo percebe seu engano no flashback da sua vida. É aqui que percebe os fracos e suas fraquezas, os fadados a falhar, como a série inteira sugere sobre o próprio Loki – o deus destinado a falhar, que nunca teria um bom propósito na vida. Mas Loki é a ruptura, a transformação. Loki subverte a falha, para que ela se torne algo bom para ele mesmo. Chega a dizer na primeira temporada que a AvT é desvio no caminho de ascenção dele. Estaria prevendo seu futuro?

A variante tem então uma transformação definifita. Quer agora, encontrar o seu propósito, ou como disse outra variante da primeira temporada, um glorioso propósito. Ironicamente até desdenha do glorioso propósito da AVT de controlar as pessoas na justificativa de preservar a Linha do Tempo Sagrada. Mas na segunda temporada seu propósito se intensifica, e é ironicamente GLORIOSO, de verdade como vimos nesses últimos episódios, mas é, como deveria ser para um verdadeiro deus da mentira. Loki se anula eternamente para salvar os outros? A ambiguidade de se conquistar o tão esperado reino, um reino ainda maior que Asgard, com um propósito de salvar todas as linhas do tempo, mas a custa de sua anulação?

Vamos entender isso melhor…

Loki se torna uma espécie de herói. Mas há uma diferença simbólica (e arquetípica) entre o REI e o HERÓI.

O herói é uma expressão da juventude. É muito comum vermos a expressão ‘herói’ em pessoas mais jovens. É aquela expressão do destemido, daquele que enfrenta os desafios e não se importa nem com as consequências, nem com o alerta dos mais velhos sobre os possíveis perigos.

O herói acha que vence bastando apenas o esforço. Considera que a força de sua vontade é capaz de vencer qualquer barreira e tem o engano da invencibilidade.

É, por assim dizer, uma força imatura de seu desenvolvimento, ou melhor… uma força ainda em crescimento. Ainda é um menino por assim dizer, e precisa se tornar homem.  O herói menino, pode até ir pra fase adulta e continuar na ilusão do destemido herói.

Em um pólo distorcido desse herói, a pessoa pode se tornar um valentão exibicionista. Quer proclamar sua superioridade e exige seu direito de dominar as pessoas que o cercam. Alguma semelhança com Loki? Esse tipo de pessoa na vida real, ataca aqueles que identificam sua presunção pra esconder sua covardia e sua insegurança. E pra disfarçar com a força do herói, tem o senso inflado sobre sua importância e capacidade. Mas sua intensão de invencibilidade, de tentar e de se mostrar sempre forte, se torna insustentável, pois não trabalhou a covardia e a insegurança, e essa variante de Loki começou a perceber isso. Impunha medo para conquistar e dominar as pessoas e tentava matar o Thor, mas o verdadeiro sentimento, a mãe já havia identificado: ela sabia que ele a amava. Loki era perspicaz sobre os outros, menos sobre si mesmo.

Psicologicamente falando, esse herói que cai no engano de querer a todo custo vencer o mundo, está excessivamente ligado a mãe e tem a necessidade inconsciente de superá-la e afirmar sua masculinidade. Esse herói não sabe o que fazer com sua conquista quando as coisas voltam ao normal, ainda é imaturo demais e fica preso nesse ciclo de auto afirmação do herói. Pois é incapaz de perceber suas próprias limitações, e ainda não é perspicaz suficientemente sobre si mesmo.

Explicando melhor a energia do Herói é a força do homem para romper com a mãe e ir para o mundo, mas ainda imaturo, enfrenta o mundo emocionalmente de longe, como se estivesse ainda ligado à mãe, que o vai proteger de tudo. Paradoxalmente, entender as próprias limitações é força de que o herói precisa para se tornar homemO Herói é a força de independência do homem.

Em outras palavras, o herói pode ser bom ou ter pólos negativos, mas ele é de fato a força de passagem da fase da infância para a fase adulta. Faz a pessoa sonhar o impossível, mas traz o invariável engano e traiçoeiro da invencibilidade.

Já o símbolo (ou arquétipo) do rei, é a expressão da proteção, pois o rei é aquele que protege seu reino. E muito mais que isso, é a expressão da autoridade com a generosidade e acolhimento. 

O famoso Rei Arthur, da mitologia celta, possuía um interesse genuíno pelas pessoas. Amava verdadeiramente as pessoas, mas não lhe faltava autoridade. Segundo nos contam as inúmeras descrições desse nobre e bom rei de todos os tempos.

O símbolo rei (que intuímos e sabemos de algum jeito aqui dentro – arquetipicamente falando), e uma pessoa tomada por esse espírito de rei, no sentido de inspiração, quer desenvolver as virtudes de todas as pessoas de seu reino, e ajudar os mesmos a corrigirem suas falhas para que se tornem virtudes futuramente, como o profundo propósito do rei deveria ser.

É símbolo de prosperidade que traz fertilidade, colheita e benção. Símbolo da ordem, da geração (no sentido de gerar e criar), como um bom pai, provedor e protetor. Em várias civilazações antigas, o rei é mensageiro de Deus ou o próprio deus encarnado, e é o ordenador das leis sagradas enviada pelos deuses. Nesse sentido Loki questiona as leis da AVT e instaura, segundo sua concepção, um reino mais justo, quando substitui as ramificações do Tear de Viktor Timely com o seu poder de Loki. O símbolo rei é também, ainda fazendo analogias com esses antigos reinos, o estrategista com sua atuação na guerra e na economia, é o amantes das artes e o provedor da beleza para seu povo, e é também um guerreiro, pois sabia que deveria sempre lutar junto de seus guerreiros.

Essencialmente, essa variante Loki está transformando e se tornando esse rei arquetípico, existente no imaginário e nas profundezas de todos nós. O rei é tão profundo e arquetípico, que se reiniciássenos o mundo “podando” essa linha do tempo, aos moldes dos agentes da AVT, provavelmente criamos a figura do rei sagrado novamente. É uma estrutura humana criada por nós mesmos desde que o mundo é mundo, desde os primórdios da humanidade.

Loki completa seu objetivo inicial de ser o rei dos reis. Talvez, sempre esteve, essencialmente integrado a energia do rei, haja visto o incentivo de Odin à Thor e à Loki, prenunciando que o destino de ambos era ser rei.

Loki precisava, talvez de um autoconhecimento mais profundo, ou talvez precisasse expericiar mais a vida como orientadora quando nos coloca desafios para serem superados, para única e exclusivamente, nosso desenvolvimento. Afinal, a vida não é uma didática de crescimento?

Será que não foi justamente todas essa passagens e desafios da vida que fez de Loki, o buscador desses conhecimentos, para além de seu irmão Thor?

E nesse seu desenvolvimento começa a perceber, paulatinamente, que, para ser um verdadeiro rei é preciso também se abdicar de interesses pessoais e estar disposto a alguns sacrifícios. E é apenas quando coloca seus interesses pessoais em segundo plano, como vimos no desfecho da série, que pode se tornar um verdadeiro rei.

Tal é assim, conosco quando nos fazemos empréstimo desse arquétipo do rei, que já em existe em nós, como uma estrutura fundamental pré-existente. O rei em nós é ordenador, o gerador, aquele que traz prosperidade, é o protetor e aquele que acolhe quem precisa, tem autoridade na fala, mas é o incentivador das virtudes e correção da falhas. É por fim, o provedor da ordem divina na nossa vida prática, é símbolo do pai de todos, é o deus rei em nós.

Nesse sentido, Loki, encontra formidavelmente seu Glorioso Propósito!

Sacrifica seus interesses, e sacrifica até a autonomia de si mesmo, para favorecer a vida de todas as pessoas de todas as ramificações, e principalmente seus amigos, novos valores inevitavelmente identificados e adquiridos pelo objetivo de seu novo processo.

E, em um surreal símbolo das últimas cenas, palmas para os criadores da série, e que me arrepiou até o fundo da alma, vemos uma linda árvore feita de todas ramificações do tempo, que, com o toque e a junção, Loki substitui a leis estebalecidas pelo Khang com o poder de suas novas leis divinas, transformando-a em verde, com uma clara referência à árvore nórdica Yggdrasil, árvore eixo central dos nove mundos, mas também do sacrifício do deus-rei Odin, em que é auto dependurado, e auto flagelado, mas que depois resnasce para que o oráculo das runas nórdicas pudesse existir e os humanos pudessem ter as grandes perguntas existenciais e sobre os propósitos da vida respondidas.

Loki então se consolida como o deus-rei do tempo e de todas as ramificações do Universo, no lugar de Khang. Acima do símbolo rei Odin, reinando para além de Asgard (Asgard como obstinado desejo do antigo Loki), mas que agora finalmente reina como seu pai que um dia reinou em Yggdrasil. E acima do símbolo herói que seu irmão Thor representava, pois salvou todas as pessoas de todos as ramificações do tempo e da linha Sagrada.

A custa da sua autonomia? Só saberemos talvez, na terceira temporada.

Mas o símbolo de auto sacrifício é digno de um Deus Rei maduro. De uma pessoa que sabe se entender profundamente, para ser algo maior para contribuir com o todo. Está além do herói que ainda quer ser invencível pra poder provar o seu próprio valor. E muito mais além do vilão incapaz de identificar, com humildade, as próprias limitações. Mas na ruptura do símbolo do Deus Loki, o símbolo da enganação e da mentira, subverte a própria essência se tornando uma variante, capaz de reinar como um bom rei, ou melhor, um deus-rei. Mas sem o Loki falho das primeiras experiências, jamais poderia ser capaz de reinar em todos os multiversos, nem nos multiplos reinos internos de si mesmo, transportando em analogia com o nosso mundo real. Subvertendo nossa ideia de que não somos bons o suficiente para qualquer coisa que seja.

Sensacional Loki Deus Rei, mas sua posição é totalmente merecida! 

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Fábio Henrique Marques
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