[Atenção: Análise com Spoilers] – Para uma melhor experiência da sua leitura, ouça ao mesmo tempo, o PODCAST no fim desse texto.

      Particularmente gosto muito de toda a filosofia de Star Wars. Toda essa proposta de conexão com a Força é para mim um convite a uma força maior que existe dentro de nós. Não necessariamente espiritual no sentido religioso (é claro que, para aqueles que praticam qualquer religião que seja, outras analogias podem ser construídas), mas gosto da ideia de que, se buscarmos com dedicação, também encontraremos tesouros de crescimento inexplorados dentro de nós, que para mim também são espirituais. Um exemplo que me encanta é quando Luke Skywalker conhece Yoda e é treinado por ele no planeta pantanoso Dagobah. Lá, Yoda ensina a Luke o poder da Força – um campo de energia que conecta todos os seres vivos da galáxia. Mas que, só é possível manipulá-la para o lado do bem, se antes, um Jedi treinasse esses tesouros espirituais que todos nós, fora da ficção, também podemos desenvolver.

       É essa sabedoria que me encanta nos Jedi.

       Yoda passa adiante ensinamentos valiosos, convidando Luke a adentrar uma caverna no meio dos pântanos de Dagobah e curiosamente Luke encontra, luta e vence Darth Vader, mas ao cortar sua cabeça, descobre que era na verdade sua própria cabeça que jazia no chão, simbolizando nesse encontro o estudo de sentimentos como: raiva, medo e agressão dentro de si – nosso pior inimigo. O desafio de Luke era conhecer a si mesmo, entrar na caverna do seu profundo ‘Eu’ para lidar melhor com esses sentimentos ruins e aprender a dominá-los.

       “Um Jedi sempre usa a força para conhecimento e defesa. Nunca para atacar.” – disse Mestre Yoda. E continua ensinando que esse lado sombrio da força, onde a raiva, o medo e a agressão imperam, é o caminho mais rápido, fácil e sedutor. Vale repetirmos: Rápido, Fácil e Sedutor!

       E como tempo e espaço são a mesma coisa, usamos a unidade medida de distância – Parsec, muito utilizada pela Millenium Falcon de Han Solo, para avançarmos, na velocidade da Luz, a época da segunda temporada de O Mandaloriano.

       Nessa época, como muitos já devem saber, o Mestre Yoda já se uniu a força e Luke já derrotou seu Pai – Anakin Skywalker, o Darth Vader. O Mandaloriano cuida de um bebê da mesma raça que o Mestre Yoda chamado Grogu e encontra nossa querida Ahsoka Tano para buscar a possibilidade treiná-lo para o lado luminosa do Força.

       Ahsoka é uma personagem muito querida por uma legião de fãs por conta da animação “The Clone Wars”, e sua aparição na série do Mandaloriano foi muito esperada. E eu particularmente fiquei esperando, e acredito que muitos também, não só suas lutas, mas também sua sabedoria. Haja vista, que ela abandona a Ordem Jedi, e curiosamente, também não vai para o lado das sombras – surgindo diversas teorias criadas por fãs de que existem Jedi Cinzas espalhados pela galáxia.

       Só aí, já teríamos muita história para contar, pois quem seriam aqueles que dominam a Força, mas passaram pela prova da Luz e da Sombra e não sucumbiram a nenhuma delas, ou melhor, dominam os dois lados da força, sem serem dominados por tudo que vem junto com ela, inclusive as convenções sociais – como é o caso da política, que também envolve a Ordem Jedi.

       Só que acabei sendo surpreendido pela recusa de Ahsoka em treinar Grogu a pedido do Mandaloriano. E depois de pensar sobre essa recusa e relembrar toda a trajetória de Ahsoka com Anakin Skywalker, percebi que ela estava se referindo ao medo, à raiva e a agressão que seu Mestre Anakin sucumbiu, pois Grogu também tinha sentimentos de apego ao Mandaloriano, e se esses sentimentos não fossem trabalhados, eles poderiam se tornar medo, mais especificamente, medo de perder alguém, raiva depois disso, e obviamente, o lado sombrio da Força nas mãos de um ser muito poderoso como Grogu.

       Foi aí que entendi sua recusa e claro, sua sabedoria.

       Há uma dualidade muito interessante que podemos descrever aqui: o instinto de sobrevivência e o medo. São dois sentimentos que podemos entender melhor em nós, e percebermos em que lugar dentro de si Anakin falhou, e como Ahsoka Tano é sensível a esses sentimentos e como os utiliza como fonte de sabedoria.

       O instinto de sobrevivência é algo inerente da nossa composição biológica. Numa situação de perigo, em nosso corpo nasce imediatamente energias que aceleram nosso coração, ativam nosso sistema nervoso, fazendo com que esqueçamos o que está a nossa volta e nos concentremos no perigo iminente. Temos então reações corporais muito semelhantes aos animais numa situação de perigo: lutar, fugir ou congelar – para depois, também fugir. Isso acontece conosco em frações de segundos, muito antes de pensarmos sobre. É uma reação corporal que sentimos: nosso instinto de sobrevivência. Podemos encarar como nossa inteligência corporal que a natureza nos presenteou.

       O medo está muito ligado ao instinto de sobrevivência e ele é como uma espécie de alerta, que podemos considerá-lo como saudável, pois nos convida a sentimentos de cautela, prudência, precaução, etc.

       Diferente dos animais, o grande desafio para nós humanos, é entender como podemos aplicar habilmente esses sentimentos em nosso cotidiano. Pois o medo, que poderia ser um alerta de precaução contra o desconhecido, em excesso, pode se tornar paralisia emocional. Já até falamos sobre isso em outras análises aqui do canal.

       Mas quero que nos atentemos a uma armadilha que temos dentro de nós: quando as convenções sociais nos dão PODER, será que vamos atrás do conhecimento e da defesa como sugere o Mestre Yoda, ou vamos atrás do mais RÁPIDO, FÁCIL e SEDUTOR? Não há uma expressão popular que diz? – “Se quer realmente saber quem é essa pessoa, dê poder a ela!”.

       Então, imaginemos a seguinte situação: Eu preciso sobreviver, preciso pagar as contas de casa, preciso trazer o necessário aos meus filhos, por exemplo, ser bem sucedido no emprego, entre outras coisas, mas sabemos que esses desafios não são fáceis, e de repente as finanças apertam, acontece a situação de doença na família, entre tantos outros obstáculos que temos durante nossa vida. E são todos obstáculos que nos dão a oportunidade de nos conhecer melhor e a lidar com os sentimentos de SOBREVIVÊNCIA. E muitos outros sentimentos podem vir juntos para que possamos aprimorar, como por exemplo, a paciência, a resignação, a disciplina, aprender a lidar com o MEDO, entre muitas outras virtudes que podemos desenvolver se nos dispormos a elas. E veja bem:  esses são tesouros espirituais que ninguém pode roubar, nem tirar de você e muito menos estragar! É a sua conquista emocional. O instinto de sobrevivência está muito ligado ao PODER de execução para atravessar os obstáculos, mas aqui esse poder está relacionado com a sua conquista emocional.

       Mas agora imagina que surge na sua frente, um caminho mais RÁPIDO, FÁCIL e SEDUTOR. O poder novamente! Mas agora esse poder está relacionado a uma posição social, essa posição social lhe dá meios de conseguir recursos financeiros de forma ilegal, e você enxerga finalmente um meio de não ter que lidar com todos os seus medos, pois você já estava ficando com raiva da vida, começando a colocar a culpa dos seus infortúnios nas outras pessoas, e até cultivando o ódio por algumas dessas pessoas. Lógico que tudo isso leva ao sofrimento, como acontece com Anakin. Mas essa “oportunidade” lhe dará a chance de se livrar de tudo isso. Só que veja bem: nessa situação não há conquistas emocionais. O medo, a raiva, a agressão, o ódio e o sofrimento apenas foram colocados ‘embaixo do tapete’, como diz outra expressão popular.

       Na história, mais especificamente no Epísódio II de Star Wars, após um sonho, Anakin tenta salvar sua mãe das mãos do povo da areia, mas chega tarde demais, e ela vem a falecer em seus braços. Anakin lida pela primeira vez com o medo da perda, com a raiva, e com a agressão, pois, numa vingança a sangue frio, mata os algozes de sua mãe.

       Na animação The Clone Wars, Anakin conhece e passa a treinar Ahsoka Tano, mas não era apenas Mestre e Padawan. Anakin cria com ela uma relação fraternal e bem bonita. Acontece que Ahsoka, se desliga definitivamente da Ordem Jedi, após um motivo de desconfiança pela própria Ordem Jedi, e Anakin, além de se ver sozinho lidando como o ‘Escolhido’ e salvador universo como sugeria a profecia, se vê mais uma vez enfrentando o sentimento de perda.

       E no Episódio III, Anakin sonha com sua amada Padmé morrendo, da mesma forma que sonhou com sua mãe. Mas com um detalhe a mais: Padmé estava grávida de Luke e Leia. Dessa vez, mais preocupado, começa a sucumbir ainda mais ao medo, a insegurança, ao medo da perda, a raiva, ao ódio, a agressão e obviamente, ao sofrimento. Mesmo depois de ter sido alertado pelo Mestre Yoda, que o medo da perda poderia levá-lo para o lado sombrio da Força.

       Em seus sentimentos mau trabalhados, Anakin está agora, mais suscetível às artimanhas do PODER, mas principalmente, às armadilhas sentimentais, pois não buscou os tesouros espirituais vindo das conquistas emocionais e dos obstáculos que só nos fazem crescer.

       Palpatine, ou Darth Sidius, percebe essa fragilidade em Anakin, manipula a política para dar seu golpe final, se tornar Imperador, e ainda trazer Anakin com ele. Engano-o dizendo que a Ordem Jedi tem medo de perder o poder, e como Anakin conhecia muito bem o sentimento de perda, começa a reconsiderar as ideias de Palpatine. E o pior: Palpatine oferece a Anakin um poder capaz de vencer a morte.

       Olha aí o caminho mais rápido, fácil e sedutor: o PODER sem o discernimento, e o PODER sem estar a favor da VIDA. E Anakin tinha poder de sobra. Só que agora, identificado com o Império, usa o poder para subjugar as pessoas, tanto politicamente, quanto fisicamente. Usa o poder, contra si mesmo, pois não se dedica a se conhecer melhor, entrar na caverna de si mesmo e entender seus medos, como Luke faz no futuro. E usa o sentimento de TRIUNFO sobre as outras pessoas para se sentir melhor, para se sentir PODEROSO. Engana seu próprio instinto de sobrevivência, pois o poder usado dessa forma, dá a sensação de ter vencido todos os obstáculos que a vida nos coloca para crescer. Acha que há TRIUNFO, mas na verdade há insegurança, medo, medo da perda, raiva, agressão e sofrimento – todos disfarçados e escondidos pelo PODER aparente.

       Aqueles que querem triunfar sobre o outro está desenvolvendo o sentimento de competição e não de cooperação mútua. Onde quer que há o sentimento de triunfo algo vai ser destruído do outro lado. Há a derrota para o outro.

       Essa pessoa acaba perdendo algo mais poderoso. Pois o contrário disso é a reconciliação, a fraternidade, ajudar os outros a se reerguerem. É saber estender a mão. É humildade. Aqui um outro PODER nasce na pessoa, um poder mais belo por si só. Pois além da pessoa conhecer a si mesmo mais experenciado com os sentimentos, agora não age mais para subjugar o outro para abafar os próprios medos e inseguranças. Não age mais para triunfar sobre o outro para se sentir poderoso. Age a favor da reconciliação, da cooperação mútua, da paz, da cura, da cura das relações, do respeito ao próximo e do Amor.

       Não há problemas em conquistar o poder, mas quando ele é a favor da vida, quando é a favor do amor, esse poder se torna muito mais belo, porque junto com ele está a conquista emocional e a construção de um mundo melhor, respeitando a caminhada daqueles que estão ao nosso lado.

       Quando voltamos para a cena de Ahsoka Tano com Grogu na série do Mandaloriano, e com todo esse entendimento que conversamos, compreendemos porque ela se recusa a treinar o bebê Yoda. Qual seria sua responsabilidade se ela treinasse um ser como Grogu, com muito potencial na Força, e esse ser sucumbisse ao lado sombrio, pois não sabe lidar com seus sentimentos de insegurança, medo, medo da perda, apego, raiva, e com os instintos mais básicos, que é nosso instinto de sobrevivência?

       Ela sabe exatamente o que acontece! Pois viu seu antigo Mestre Anakin Skywalker ser dobrado pela vontade de ter poder – sem desenvolver a paciência, a resignação, a disciplina e aprender a lidar com o MEDO. Sentimentos, como já dissemos, que o instinto de sobrevivência quer que aprimoremos. Ou seja, aquela parte da nossa natureza biológica que nos desafia a sobreviver num mundo hostil, mas sobreviver com sabedoria.

       O que podemos enxergar agora com mais clareza, é que antes de dominar a FORÇA, e para o lado do bem como sugere o Mestre Yoda, precisamos conhecer a nós mesmos com mais competência, senão seremos sempre dominados, por sentimentos que mal conhecemos.

       E se nós pudéssemos nos colocar no lugar do escritor da história da série O Mandaloriano, e quiséssemos desenvolver ainda mais a sabedoria da Ahsoka Tano, numa brincadeira imaginativa, poderíamos imaginá-la treinando ANTES, os SENTIMENTOS de Grogu. Seria algo bem inspirador, como quando vemos Yoda encaminhando Luke para a caverna, para que antes de dominar a Força, tivesse que dominar seus medos – ou seja, vencer a si mesmo.

       Para nós a mesma sabedoria é válida. Pois quem poderia roubar, tirar de você ou estragar os tesouros espirituais da SUA conquista emocional, não é mesmo?

       Nesse sentido, espero que a FORÇA esteja com vocês, Heroínas e Heróis Despertos!

 

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Fábio Henrique Marques
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