A série O Mandaloriano, de modo geral, mexeu com o sentimento de exploração e aventuras pelo espaço a fora, muito, é claro, pela forma que foi conduzida pelos próprios roteiristas, que mostram em algumas cenas, a diversidade que poderíamos encontrar se fossemos nós os viajantes do espaço-tempo, e é esse sentimento de nostalgia pelo universo Star Wars e de aventura espacial que me conquistou primeiramente. Logo em seguida nos simpatizamos pelo protagonista da história que, apesar de caçador de recompensas – o que deveria torná-lo num anti-herói, percebemos sua tendência a ter um bom coração ao “adotar”, ou melhor, se tornar o tutor, de um dos seres mais fofinhos das galáxias – um bebê da mesma espécie que nosso querido Yoda. Só esse escopo já torna a história interessante por si só, pois ver um caçador de recompensas viajando e se aventurando pelo universo e ainda tendo que cuidar de um bebê, creio eu, que não deve ser muito comum num parsec* [falando sobre distancias estelares] ou até mesmo em todo o nosso universo. Mas entre o protagonista, o “bebê Yoda” e outros personagens da história, quem, sob a perspectiva do Herói que Existe em Nós!, poderíamos considerar como um verdadeiro herói da vida real? As ações dessa pessoa podem ter passado despercebidas por muitas pessoas, mas para outras, podem ter causado simpatia a esse personagem, como é o caso de nós aqui do Café com Zumbi. Estou falando de Kuiil, o Ugnaught. E tenho dito!

           Apesar de tantas outras coisas que achei interessante nessa série, observar Kuiil e suas atitudes sob a ótica do Herói que Existe em Nós! me causou uma empatia natural por esse personagem que aceita ajudar o protagonista logo no primeiro episódio que, por sua vez, estava em busca de capturar uma pessoa que tinha por volta de uns 50 anos, e que logo descobrimos se tratar do “bebê Yoda”. Acontece que Kuiil se sentia incomodado com a quantidade de caçadores de recompensa com a missão de entrar no planeta Arvala-7 em busca do “bebê Yoda” retirando a paz de seus habitantes e se inclina a ajudar o protagonista, pois sabia da reputação dos mandalorianos como excelentes caçadores de recompensas.

           Ao longo dos primeiros episódios, quando vamos conhecendo melhor Kuiil, notamos que seu trabalho atual é de agricultor de umidade, trabalho comum em planetas áridos em que há muita escassez de água, e notamos principalmente, que Kuiil é retratado como sábio, paciente e trabalhador. Sábio primeiramente por saber que nada faria parar de chegar novos caçadores de recompensas até que a missão fosse concluída, e só assim a paz voltaria a reinar, pelo menos naquela parte do planeta; sábio também, por notarmos que, em algumas cenas, antecipa a intenção das pessoas e tem um bom senso relativamente apurado naquilo que se é preciso fazer.

           Mas uma das atitudes que mais me chamou a atenção foi sua relação de sabedoria com o protagonista. É claro que existiu um interesse em ajudar o Mandaloriano, mas foi muito interessante ver que essa relação estava além dos interesses pessoais. Primeiro, não só por ensinar o mandaloriano a montar os blurggs [uma espécie esquisita de lagartos gigantes], pois só assim atravessariam o terreno acidentado para chegar ao acampamento onde se encontrava o “bebê Yoda”, mas também para fazê-lo enxergar sua própria capacidade, quando o relembra que seus ancestrais mandalorianos dominaram e montavam em Mythossauros [e ainda, no futuro do pretérito – exterminá-los-iam], e que montar em uma simples blurgg seria fácil demais para ele. Em outro momento, quando os Jawas saqueiam as peças de sua nave, Kuiil simplesmente o ajuda a renegociá-las com essas pequenas e enfadonhas criaturas encapuzadas e de olhos vermelhos, e ainda o ajuda no hercúleo trabalho de reconstruir a Razor Crest – nome da nave do protagonista. E nesse momento até me pareceu um pouco fora da realidade, mas depois que li sobre a capacidade da raça ugnaughts me pareceu plausível Kuiil ter consigo fazer um trabalho tão enorme assim.

           Ugnaugth é uma raça de humanoides com rosto e nariz de porco e considerada a raça que mais trabalha na galáxia, com fama de extremamente aplicados, zelosos no que fazem e leais trabalhadores, e por isso mesmo acabaram se tornando servos contratados do Império Galáctico, ou em outras palavras, escravos. E como o próprio Kuiil revela na série, trabalhou por três vidas humanas como servo contratado, o que lhe permitiu, em compensação, a liberdade, o aprimoramento das habilidades das suas mãos, e obviamente, o aprimoramento da sua inteligência também.

           O curioso é que, ao pesquisar sobre a origem da palavra ugnaught, não sei se os criadores de Star Wars fizeram propositalmente ou não, mas naught significa “nada”, “pessoa insignificante”, ou mesmo “joão-ninguém”. E a pronúncia lembra a palavra Juggernaut que significa, em linhas gerais, “uma força imparável”. Resultando em “uma pessoa insignificante com uma força imparável”, ajustando-se muito bem com as características dessa raça que passa despercebida em todo o universo Star Wars, mas que estão sempre trabalhando.

           Com Kuiil não é diferente. E sua capacidade de ajudar sem esperar nada em troca é impressionante. Em nenhum momento ele pede algum tipo de pagamento ou a divisão da recompensa pela missão concluída, muito pelo contrário, quando o Mandaloriano insiste em pagá-lo ou mesmo lhe oferecer um trabalho, Kuill só quer agradecer por tê-lo ajudado a restabelecer a paz no seu vale e em mostrar sua gratidão por ter podido ajudar o Mandaloriano, sem mesmo perguntar ou saber se o protagonista tem boa índole ou não. O que já nos remete a algumas perguntas daquilo que podemos nos tornar se nos inspirarmos em Kuiil: Devemos também ajudar o próximo sem olhar a quem? Ou será que iriamos gostar se, ao precisarmos de ajuda, as pessoas fizessem um interrogatório enorme para saber se somos dignos da sua ajuda? Um sentimento simples basta não é mesmo? Podemos nos encher desse sentimento ao ver o Mandaloriano se despedir de Kuiil após reconstruírem a Razor Crest, sendo genuinamente agradáveis um com o outro.

           É aí que consiste umas das sabedorias de Kuiil, e se quisermos nos aprofundar ainda mais, podemos notar que, ao trabalhar, Kuiil não se atém ao DEVER com aquele pensamento “Eu TENHO que fazer o meu trabalho”, que tanto nos prejudica emocionalmente, mas o faz por amor – habilidade emocional que conquistou exercendo com sabedoria seu trabalho, seja ele qual for ou qual tenha sido. E quando pensamos em esforço ou em persistência, é de fato uma virtude que deveríamos trabalhar para conquistá-las, mas esforço, trabalho, persistência, entre outras qualidades nesse sentido, são sempre passos que vêm antes da sabedoria. Pois a origem da palavra Saber vem do latim que significa ter sabor, ter bom paladar, de onde se desdobrou a palavra sábio, que em outras palavras, é aquele que percebe o mundo organizado usando os sentidos. E, em se tratando de trabalho, quando usamos a sabedoria, ‘saboreamos’ esses momentos, como aquele que ama o que faz ou como aquele trabalha transformando o “eu TENHO que…” em “eu AMO…”, transcendendo assim, o esforço e a persistência.

           No sétimo episódio, o Mandaloriano retorna à Arvala-7 para tentar contratá-lo como protetor do “bebê Yoda” e Kuiil aceita ajudar novamente sem pagamento, porque antes de tudo, quer que a criança fique longe da escravidão imperial ou dos costumes repulsivos de repressão ou inferiorização das outras culturas e etnias. E como diz em suas próprias palavras: “Ninguém será livre até que os velhos costumes tenham acabados de vez”.

           Ao lado de seus amigos, Kuiil luta por aquilo que é belo a se fazer e será sempre lembrado pelos atos que inspiram outras pessoas, de modo que, quando as pessoas se lembrarem dele no futuro, será sempre revivido de forma positiva no coração. E é assim que deveríamos fazer também, pois se refletirmos bem, nos seria óbvio perguntar: quantas pessoas que fizeram o mal no passado são lembradas com carinho hoje? E quantas pessoas que foram firmes no bem a se fazer são lembradas como modelos inspiradores a serem seguidas? As mães, por exemplo, são as cultivadoras do jardim onde os homens travam batalhas – Kuiil não fez o que fez para ser lembrado, porque ele também tem a sabedoria da humildade, fez porque pensa no mais belo a se fazer e se tornou, sob a perspectiva do Herói que Existe em Nós!, o verdadeiro herói de O Mandaloriano. E tenho dito!

 

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Fábio Henrique Marques
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