O que é a felicidade? Como alcançamos a felicidade? O que é felicidade para mim é a mesma que é para o outro?

            Um assunto tão delicado e de interesse para todos nós, pode, com certeza, se assim quisermos, ser relativo, e há algumas divergências quando a minha ideia de felicidade se esbarra e acaba impedindo que a busca pela felicidade do outro se desenvolva.

            Longe de decretarmos uma fórmula pronta e acabada para a felicidade, como se fosse uma receita de bolo para que pudéssemos segui-la, e como num passe de mágica sermos felizes, analisamos esse livro argumentativo chamado Ética a Nicômaco do filósofo da Grécia Antiga Aristóteles. Que descreve sobre ética, virtudes, felicidade, amizade, justiça, justa medida, entre tantos outros assuntos usando justamente a parte mais elevada que temos em relação aos outros seres viventes: a nossa inteligência.

            Abrindo aspas para uma introdução melhor sobre o assunto, Platão, mestre de Aristóteles, levava a dialética tão à sério que considerava a conversa argumentativa como uma arte. E se pudéssemos fazer o exercício de abrandar nosso ego com a aptidão da humildade para conversar sobre um assunto qualquer com outra pessoa, e essa pessoa também estivesse pronta para abandonar aquela vontade que temos de “querermos estar sempre certo”, veríamos que poderíamos chegar a pontos de aprendizagem inimagináveis, pois estaríamos sempre abertos para explorar um assunto até, quem sabe, se esgotar, ou pelo menos se esgotar ao ponto máximo do conhecimento das duas pessoas envolvidas nessa arte da dialética. Quão ricas seriam nossas conversas, não é mesmo?

            E por isso mesmo, quando observamos uma das civilizações antigas mais incríveis, que realmente existiu no espaço e tempo da nossa existência, e que sabia dar o valor devido à parte mais elevada de nós seres humanos – a nossa inteligência, percebemos que Aristóteles, habilmente com sua capacidade intelectiva, “fecha” em argumentos de conclusão LÓGICA, como podemos desenvolver nossas virtudes, ou em outras palavras, como podemos desenvolver os nossos sentimentos até que ele se torne uma excelência dentro de nós, como se fosse um hábito. Ou seja, num dos auges da inteligência humana, quando a ciência ainda engatinhava, Aristóteles nos mostra que era possível entender, usando essa nossa parte mais elevada – o intelecto, numa espécie de “conclusões óbvias”, o que é a felicidade, a ética, as virtudes, como podemos desenvolver essas virtudes, entre muitos outros assuntos. E é claro que, se essa argumentação utilizada por esse filósofo foi para nos dizer que supostamente existe um caminho óbvio para a felicidade, não quer dizer que a construção desse caminho não seja trabalhosa.

            Carl Gustav Jung, depois de uma vasta experiência de atendimento como médico psiquiatra e psicanalista, disserta sobre o conceito de que nossa mente tem suas Leis próprias no Espaço e Tempo, diferentes das ciências Físicas e Biológicas que observamos ainda hoje. Pois como medir o que estamos sentindo e pensando, não é mesmo?

            E para não perdermos a oportunidade de colocarmos os nossos sentimentos no mesmo patamar da nossa inteligência, façamos uma pequena viagem por esse Espaço e Tempo da nossa imaginação e da nossa capacidade intelectiva.

            Se pudéssemos nos transportar para a Grécia Antiga e ver esses filósofos antigos estudando…se pudéssemos nos colocar no lugar desses grandes pensadores, fora do mundo moderno em meio às civilizações pequenas e mais pertos da natureza em relação às grandes cidades de hoje… se pudéssemos transpor nossa mente àquela época e acompanhar a jornada de busca pelo conhecimento que esses filósofos empreendiam, tendo em vista o estudo que buscavam no Egito por exemplo, talvez, poderíamos experimentar um sentimento de respeito a todo esse conhecimento ancestral que temos, se me permitem assim dizer; e sobre o quanto somos ricos como humanidade se nos permitirmos aprender com tudo aquilo de bom que já conquistamos intelectualmente e sentimentalmente. Como dissemos, Aristóteles busca compreender as virtudes em nós como a coragem, a temperança, a amabilidade e como podemos desenvolvê-las até que essas virtudes se tornem um hábito.

            Dito isso, estudamos no livro, que Aristóteles faz uma pequena comparação: a vegetação, os animais e os seres humanos. Apenas com a observação, notamos que todas as plantas no planeta têm um princípio vital que as tornam vivas. Nos animais notamos que também existe esse princípio, mas eles possuem também, em sua natureza, o instinto, que podemos entender como uma espécie de mecanismo natural que os fazem ir atrás de seu alimento, como na caça, por exemplo. Ali há uma espécie de inteligência mais desenvolvida do que nas plantas.

            Nos seres humanos, Aristóteles observa que nós também temos o princípio vital inerentes às duas categorias de seres anteriores. Temos também o instinto observado nos animais, relacionada à nossa sobrevivência – espécie de inteligência espontânea que nos direciona às nossas necessidades básicas: como nos alimentar e nos proteger, por exemplos. Mas nós temos uma parte mais elevada em relação ao princípio vital e ao instinto: o nosso intelecto. E aqui temos um eixo central e direcionador.

            Se a parte mais elevada em nós é, obviamente, o nosso intelecto, significa que temos a possibilidade de fazer bom uso dela. Se podemos fazer bom uso, significa que temos que entender como fazemos bom uso dessa nossa habilidade. E se é possível fazer bom uso da nossa parte mais elevada e usar nosso intelecto para nosso próprio benefício, porque ainda não percebemos isso?

            Aristóteles vai ainda mais fundo: TODOS os seres humanos têm como objetivo final a FELICIDADE. Se eu quero segurança financeira, é para não me preocupar, alcançar uma certa tranquilidade associada à felicidade. Se eu quero o melhor carro é pra satisfazer uma vontade pessoal associada ao prazer e logicamente à felicidade pessoal. Se eu quero encontrar um companheiro ou companheira, é para ter com quem compartilhar a vida, para não se sentir sozinho, ou relacionado aos prazeres corporais, mas também, obviamente, para a satisfação e prazer pessoal associando-os também à felicidade. Ou seja, nunca escapamos da natureza do ser humano: ‘a natureza que temos de sempre buscar pela felicidade´, independente da nossa atividade.

            E Aristóteles continua. Se admitirmos que tudo que fazemos é para atingir uma satisfação pessoal e obviamente relacionando-a com o sentido de felicidade, será que nossa parte mais elevada – o intelecto, não teria um papel fundamental nisso?

            Aristóteles desenvolve esse raciocínio argumentando que o nosso intelecto pode e deve desenvolver os nossos sentimentos até a excelência ou seja, a virtude. A nossa parte mais elevada é capaz de tornar nossos sentimentos excelentes para conosco mesmos, afim de conquistarmos uma certa habilidade emocional. Mas a pergunta que sempre nos vem à cabeça nesse tipo de análise é: “como?”

            Aristóteles propõe então buscarmos a ‘justa medida’ das nossas virtudes.

            Se estamos nos propondo a desenvolver em nós um sentimento como a capacidade de ser mais amável com as pessoas, a amabilidade por exemplo, devemos sempre tomar como direcionadores da justa medida, as nossas dores e os nossos prazeres, ou seja, para atingirmos o equilíbrio desse sentimento, as nossas dores e nossos prazeres são como alertas para sabermos se estamos no caminho certo para desenvolver essa virtude.

            Se eu estou no excesso de amabilidade, essa virtude se torna um malefício, pois nesse caso, eu ajo como um bajulador. E o bajulador, ao adular outra pessoa, esconde o sentimento de carência por trás das suas ações, pois no fundo quer ser reconhecido, receber a aprovação das outras pessoas (e não a sua própria aprovação), e precisa receber elogios para se sentir motivado. Há ali uma dependência externa para ser feliz, e a amabilidade em excesso, que se mascara de prazer, há, ali, na verdade – a dor.

            Se eu estou na escassez da amabilidade, eu estou desempenhando as habilidades do mau humor sem motivo aparente, do desgosto, da desordem e da insensibilidade. Ou seja, também há ali uma dor me alertando para me investigar com mais sabedoria e passar a me direcionar para o equilíbrio daquele sentimento. Nem excesso, nem escassez. A justa medida.

            E assim é para cada sentimento que analisarmos em nós. Podem fazer o teste.

            Se quero desenvolver a coragem, posso começar observando a dor e o prazer no excesso e na escassez desse sentimento. Se eu tenho escassez de coragem, estou dando espaço demais para os meus medos. E por conta deles, perco oportunidades, porque não quero enfrentar o desconhecido. E para justificar a dor por trás das minhas ações medrosas, me utilizo de um prazer momentâneo chamado ‘zona de conforto’. Aqui, no conforto e no prazer da inércia e da preguiça, me justifico para não enfrentar o medo. Novamente dor e prazer me alertando.

            E no excesso da coragem, sou aquele que enfrenta qualquer situação sem analisar as consequências. Tenho o prazer de ser destemido, às vezes até como uma vaidade para me mostrar para as outras pessoas, e posso me colocar em situação de perigo porque não ponderei com sabedoria.

            O convite de Aristóteles é: se a parte mais elevada do ser humano é o nosso intelecto, e se eu posso usá-lo para melhorar meus sentimentos e transformá-los numa virtude, observando as dores e os prazeres, porque vou escolher ser um bajulador? Ou um medroso? Ou um mau humorado sem razões aparentes? Ou um temerário?

            Aristóteles diz que nosso poder de escolha é aquilo que mais define a nossa disposição de caráter. É aqui que burilamos e desenvolvemos nosso caráter para melhor. A proposta é observar se conservo algum sentimento que me prejudica e “treinar” a virtude desse sentimento para a justa medida até que esse sentimento se torne um hábito em nós.

            Diante dessas habilidades que podemos desenvolver, estaremos mais preparados quando um infortúnio recair sobre nós. Ou quando a tristeza nos abater. Ou quando os obstáculos e desafios injustificáveis baterem a nossa porta. É claro, que no calor dos nossos sentimentos é difícil nos mantermos equilibrados, e o chamado àquela virtude pode ser inusitado ou emergente, mas há aí, ao menos a possibilidade de nos conhecermos melhor.

            Reiteramos que não sabemos se Aristóteles queria definir um caminho único para a felicidade. Duvido muito, mas de qualquer forma temos em nossas mãos, um documento que atravessou os milênios e que contêm um registro de uma filosofia que encantou diversos pensadores ao longo do Espaço e do Tempo no nosso planeta e quem sabe, além dele. E podemos, no mínimo, tratar essas ideias como mais uma ferramenta de desenvolvimento pessoal e de antecipação de nós mesmos. E mais curioso ainda é que, usando apenas o raciocínio lógico, sem desprezar todo o conhecimento que já existia antes deles e todo o estudo que faziam, chegavam à conclusões fascinantes extraídas apenas da parte mais elevada de nós mesmos – o nosso intelecto.

            O livro é muito rico e seria uma pretensão nossa querer resumir todo o conteúdo em poucas palavras, ainda mais com os temas que não conseguiríamos abordar sem uma reflexão mais aprofundada, como é o caso da amizade e da justiça, mas gostaríamos de compartilhar essa ideia de que nossos sentimentos não precisam mais ser considerados um tabu, como se nós não pudéssemos desenvolvê-los. Pelo contrário, esses sentimentos bem desenvolvidos em nós são virtudes, ou excelências, se assim preferir transliterar, e que a felicidade não é para ser alcançada como um objeto a ser obtido por nós, mas como uma espécie de contemplação, ou em outras palavras, um estado de espírito, pois como o próprio Aristóteles observa a felicidade está na ‘ATIVIDADE CONTÍNUA segundo a nossa parte mais elevada, transformando sentimentos em virtudes, isso é claro, em toda e qualquer situação, sentimento, dificuldade, profissão ou ocupação nas quais estamos inseridos.’ É como aquela velha sabedoria que já conhecemos… ‘a felicidade está na jornada, no caminho a se percorrer, e não no objetivo final’. É como se nós estivéssemos num estado de espírito saboreando e contemplando qualquer atividade que façamos, porque as nossas virtudes estão na justa medida, os nossos sentimentos estão burilados.

            Nesse sentido a felicidade está mais para um conjunto de fatores, que através dos quais se experiencia essa felicidade, de acordo com a disposição (ou tendência) do nosso caráter (que pode, é claro, ser desenvolvido através das virtudes), e se comtempla que está na obra que nós realizamos em conformidade com as excelências em nós – muito mais do que a obra que nós conquistamos. Pois constantemente associamos as conquistas, os prazeres e as satisfações pessoais com a felicidade, colocando, sem perceber, ou percebendo, o TER acima do SER.

 

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Fábio Henrique Marques
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